1.Fazenda
Suissa 1925 a 1955 (8)
1.5
Saúde, Educação e Lazer (2)
Educação:
A
maioria dos imigrantes estrangeiros veio para cá por necessidade, fugindo de
uma guerra, crise econômica ou perseguição. Max Wirth foi um dos poucos que
veio por opção. Trocou a vida confortável que gozava como industrial na Suíça
pela aventura de desbravar terras no Oeste Paulista. Elaborou uma estratégia para
cativar colaboradores qualificados nesse fim de mundo. Um ponto fundamental era
garantir o acesso à educação não somente aos filhos daqueles que ocupavam
cargos de chefia, mas também aos filhos dos colonos. Entre os colaboradores
mais próximos havia muitos suíços. Por isso nos primeiros anos havia duas
escolas na fazenda: a escolinha suíça,
na qual também estudavam seus próprios filhos, e a escola brasileira para a população residente em geral.
A
escolinha suíça não existe mais, porém a escola brasileira foi ampliada e
adaptada ao longo dos anos. O desenho ilustra a situação da escola naquela época conforme relatos de ex-professoras e alunos.
A
escola brasileira se chamava oficialmente Escola Mista da Fazenda Suissa. Ela
funcionava numa sala adjacente à casa do farmacêutico. Havia uma varanda de
acesso que ficava entre a sala de aula e a casa. No fundo havia um sanitário
precário para atender os alunos. Fritz Loosli nos conta de suas professoras
Dona Joaninha e Dona Maria Angélica que vinham cedo de Getulina com a linha de
ônibus Pássaro Amarelo, almoçavam na casa de Sr. João o farmacêutico e voltavam
para casa somente de tardezinha quando o ônibus retornava de Garça. As quatro
classes do ensino básico funcionavam na mesma sala. Na foto à seguir Lilly, a
irmã mais velha de Fritz Loosli, está sentada na primeira carteira à esquerda.
A professora é Dona Maria Angélica.
Max
Wirth Junior descreve seu aprendizado na escola suíça da seguinte forma:
“A
escola foi construída dentro do recém-plantado bosque de eucaliptos logo depois
de nossa chegada. Era uma construção de madeira sobre palafitas conforme o
costume da época, com dois compartimentos e uma grande varanda na frente... Não
havia forro, as paredes eram altas, aproximadamente de 3 metros, fechado por um
telhado aparente e arejado... Nossa escola era simples – cumpria sua função.
Num quarto morava o senhor professor, primeiro o velho, depois o Schinsky.
Havia uma cama de ferro branca com molas e colchão de palha, uma caixa que fazia
às vezes de criado-mudo, um guarda-roupa, o lavatório de ágata com jarro e uma
pequena mesa com cadeira. Ambos os professores preparavam seu próprio chá de
manhã, Lipton com leite condensado ou chá mate Leão que vinha embalado numa
caixinha de madeira com os dizeres “já vem queimado” para diferenciá-lo do mate
verde de chimarrão que era comercializado em barricas. Quando alguém estava de
mau humor se dizia “ele está queimado” de forma que nós apenas sussurrávamos “Mate
Leão” quando o professor Hauser nos recebia de mau humor para a aula. Ele não
gostava de lecionar, preferia nos ensinar trabalhos manuais e nunca mais
esquecemos as lições que ele nos deu na bancada cheia de ferramentas que ficava
em sua varanda. Mas ele também tinha uma caixa cheia de livros, bem ordenados
sobre uma estante de tábuas de sua biblioteca. Eram livros bons, escolhidos à
dedo, pois a leitura era sua paixão e se Konrad Hauser, o péssimo professor que
logo seria demitido sem dó nem agradecimentos pelo nosso pai, nos deixou algo
para a vida seu legado foi o amor à leitura...
Professor
Walter Schinsky substituiu o primeiro professor... porque após dois anos de
aulas particulares ainda ignorávamos a tabuada mesmo conhecendo de cor a
história de Robinson Crusoé. Fazíamos trabalhos manuais, montávamos à cavalo,
atirávamos, mas nossa ortografia era precária, os conhecimentos de matemática
eram um escândalo, enfim, estávamos muito atrasados exceto na leitura. Por isso
a vinda de Walter Schinky foi como uma declaração de guerra, um estrondo após o
qual fomos bombardeados com conhecimento e forçados ao estudo... De dia os
estudos e as brincadeiras nos mantinham ocupados, de noite Karl May nos roubava
o sono porque líamos até a vela se extinguir. Acho que podemos considerar que
tivemos uma infância feliz. Não havia rádio, muito menos televisão, mas líamos
e conversávamos – líamos muito e certos livros até repetidas vezes.. ”
(A
leitura à qual Max Wirth Junior se refere são os livros da série de faroeste infanto-juvenil
cujos heróis eram o índio apache Winnetou e seu amigo caçador Old Shatterhand,
ambos retratados abaixo junto com a foto do autor Karl May)
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